Eu cresci vendo a minha mãe sentada no terraço de casa lendo. Lendo tudo o que desse na telha. Revista, romance, a Bíblia… Ela ficava na paz dela, em silêncio, fazendo longas leituras, a tarde inteirinha. Depois, ela ia conversar e tantos assuntos vinham à tona, tantas formas de enxergar o mundo desabrochavam sobre mim! Eu pensava que era tão difícil mudar um pensamento, uma ideia férrea, mas os livros me mostraram o contrário, e a minha mãe foi o meu maior exemplo de uma leitora voraz, uma pessoa que buscava a informação e o conhecimento, não importava onde fosse.
Lembro-me claramente da figura dela, lendo serena, e isto traz uma sensação de nostalgia e de orgulho. Talvez seja isso que falta hoje em dia, a busca pelo conhecimento em vez do senso comum, a prioridade ao embasamento teórico em vez do superficialismo ideológico.
Daí, eu vejo uma pequena parcela de pessoas falarem que livro custa caro. Caro mesmo é o preço que se paga por não ler, por não ter informação, por ser obrigado a acreditar em tudo o que dizem. Isto realmente custa bem caro e, muitas vezes, quando as pessoas se dão conta disso, já é tarde demais, já foram enganadas, já lhes passaram a perna, já lhes fizeram acreditar em absurdos que seriam resolvidos com poucas horas de leitura. Livro é cultura, livro é conhecimento, por mais “bobo” que seja, por mais “louco” que seja. Independentemente do gênero, da cor, do tamanho, da capa, do autor, quando entramos em contato com a prática da leitura, imergimos num mundo de ideias, sonhos e imaginação. De repente, tudo faz sentido e a gente não se sente mais só nem estranho. É uma palavra nova que aprendemos, é uma frase que fica em nossa mente, é uma passagem triste que nos emociona e nos faz chorar e outra bem engraçada que nos faz rir, é aquele personagem que queríamos na vida real e é também aquele amigo que queríamos ter; é aquele conceito que aprendemos e é aquela história que gostamos de contar para todas as pessoas ao nosso redor.
Enfim, ler é abrir um mundo de ideias e viagens sem ao menos sair do lugar, é
compreender que cada leitura traz uma experiência diferente, é entender que você
está sendo construído e reconstruído constantemente, é ter consciência de que é um
processo de construção do saber e é a maior arma contra a ignorância, a
desinformação e o obscurantismo.
Conti, Raquel – Professora e Mestra em Língua Portuguesa – Colégio Liceu Vivere.